Pavor é lindo.
Pavor é o relâmpago rasgando o céu inteiro, e você imaginando que a cidade inteira ficou no escuro depois daquilo.
A chuva invade o teu quarto, tudo começa a desmronar.
Questão de suspiros. Duração de silêncios.
Houve pavor, eu garanto.
Você joga o cobertor sobre a cabeça, por instinto, e descobre os pés.
O vento frio descobre teus pés descobertos e é possesso.
O arrepio percorre cada ser do teu corpo, correndo pelas pernas em um rítmo frenético.
O arrepio vem dos pés, pelas pernas, das pernas para o frágil coração e, em um pulo, você acorda.
Estou apavorada.
Você acorda já de olhos arregalados, percebe que o corpo todo sofre de frio, menos a cabeça.
A cabeça quase nunca sofre de frio, a não ser pelo nariz e as orelhas.
Os olhos também são frios, às vezes.
Você imagina que todo mundo já dormiu outra vez, depois do relâmpago.
Você não, porque estou apavorada.
Todo mundo já dormiu outra vez.
Ninguém pensou em ficar acordado, vendo a chuva cair.
Porque as pessoas já sabem que a chuva cai, e isso parece bastar.
Te conto então, não basta.
As pessoas perdem toda a pavorosidade da chuva. A parte mais bonita.
Dizem que dormir com chuva é bom, mas nunca dormiram se molhando pra saber.
Quem já dormiu assim, não diz isso, imagino.
Só acho que a chuva merecia um pouco mais de atenção.
Só isso.
Acontece que a chuva vai passar.
[Pra quem tem filosofia de vida, tudo é eterno, mas nada é pra sempre.]
Todo mundo já dormiu outra vez, porque precisam voltar para o seu patético ritmo de vida amanhã.
Tudo bem.
Cada um sendo patético do seu jeito...
Só acho que podiam se deixar apavorar mais.
Só isso.
É sério, pavor é lindo.
E a janela continua aberta...
Boa noite, estrelas.