"But that love you felt, that's just the beginning. You just got a taste of love. That's just
limited little rinky-dink mortal love. Wait till you see how much more deeply you can love
than that. You have the capacity to someday love the whole world. It's your destiny."


segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Crônicas de Alice


Era manhã de sol quando o estômago lhe embrulhou, e então Alice se lembrou de um trecho que lera certa vez:

"Ver a esperança me aterrorizava, ver a vida me embrulhava o estômago.
Estavam pedindo demais de minha coragem só porque eu era corajosa,
 pediam minha força só porque eu era forte."

À medida que despertava e os sonhos em que estava mergulhada se dissolviam por completo, ela tomou consciência de que outro dia começava. Melhor que não tivesse. Às vezes é insuportável ter de suportar a inércia da vida, sem nenhuma novidade. Alice pensou que não seria capaz de se levantar. Não aguentava mais fazer as mesmas coisas, estava cheia de si. Estava cheia de tudo.

Quando alguém fica cheio de si mesmo, nada importa. Nada merece importância.

Não, hoje eu não estou pra baixo, ela pensou. Estava mesmo era no fundo do poço. Não me lembro de ter me sentido tão mal assim antes. E honestamente, ela não se lembrava. Aliás, em poucos dias se esqueceria também o quanto se sentia mal nesse dia ensolarado... Alice é perfeita. Lembranças ruins não se abatem sobre ela.

Mas ao mesmo tempo, estar deprimida era mágico como qualquer outra novidade, então ela deixou-se assim ficar. Numa inércia que piorava a inércia a qual já estava detestando. Acontece que somar outros males não faria mal, ela que já estava desolada.

Talvez sim, Alice disse para si mesma, com a voz miudinha. Talvez sejam as mocinhas tristes que lêem os escritos de Clarice Lispector.

Mas hoje amanhaceu chovendo, e Alice acordou sorrindo.


Um comentário:

  1. E depois sou eu quem sabe se expressar.

    PQP, ficou perfeito!

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