"But that love you felt, that's just the beginning. You just got a taste of love. That's just
limited little rinky-dink mortal love. Wait till you see how much more deeply you can love
than that. You have the capacity to someday love the whole world. It's your destiny."


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Crônicas de Alice



O coração de Alice dói quando ele lhe pergunta se há algo que a magoa. Não, suas atitudes não me magoam, ela responde balançando a cabeça, com um sorriso forçado nos lábios. Não, suas reações explosivas não me chateiam; sabe, eu também sou um pouco impulsiva, às vezes, entendo que você também tenha momentos de indelicadeza, ela mente.

Ela, que desde sempre percebeu o quanto dói ouvir eu não gosto dessa sua forma de ser e passou a agir como se nenhum defeito nele a magoasse, como se nenhum defeito em ninguém a magoasse. Esperava, com isso, não ferí-lo, e sim deixar claro que o amava incondicionalmente, deixar claro que ele era importante.

Bem lá no fundo Alice desejava que ele parasse de agir com tanta frequência como um idiota, como uma forma de gentileza à ela. Para impedir que ela também se ferisse. Achava que merecia isso como todo mundo. Mas não seria ela que lhe apontaria seus defeitos. Ela é boa demais para isso.

É claro que aquele sorriso amarelo estampado em seu rosto redondo não significa que ela esteja reclamando de algo. Não está reclamando por as pessoas não se esforçarem para ser tão boas e gentis e amáveis e calmas como ela. Não, ela nunca faria tais reclamações, para não machucar ninguém. Ela se limita a se fingir imune à falta de delicadeza dos outros para com ela. E por isso todas a acham realmente simpática.

Alice fica horas se encarando no espelho. Gosta de observar como seus olhos estão ficando pesados com o tempo, cheios da dor que ela tira das outras pessoas. Agradece aos seus olhos e depois passa a analisar o todo, toda a sua aparência exausta, depois de todo o trabalho psicológico que realiza diariamente. E os outros nem percebem como ela está cansada, como eles lhe deixam cansada. Mas ela não vai pedir que prestem atenção à isso. Eles não têm de se preocupar com ela, Alice é que tem o papel de se preocupar com eles. Além disso, ela não quer exibir esse seu altruísmo, não quer que a percebam, que percebam sua perfeição.

Ela vê as sardas em seu rosto, corado de prazer. Prazer por saber quanta dor evita ao fingir que as pessoas nunca a magoam, quanto dor evita ao impedir que as pessoas vejam o quanto são defeituosas. E o quanto ela é perfeita. Alice evita que as pessoas se decepcionem consigo mesmo - e ela não se vangloria por isso. É boa demais para isso. Faz com muito prazer.

Quando ele lhe pergunta se não tem sido estúpido e uma ideia parecida com "é exatamente isso que você tem sido" lhe passa pela cabeça juntamente com a vontade de gritar à todos que são todos pessoas horríveis, ela chacoalha a cabeça para espantar tal tentação, e diz não, querido, você é ótimo!

Ele pega suas mãos e as beija delicadamente, uma a uma. Ela sorri feliz, e nem percebe o quanto ficou mais exausta nesse último segundo.

Alice sabe que nunca falará a verdade. Veio ao mundo para absorver. Absorver a decepção que as outras pessoas teriam.

E ela é boa no que faz.

In places no one will find,
all your feelings so deep inside.



Nenhum comentário:

Postar um comentário