"But that love you felt, that's just the beginning. You just got a taste of love. That's just
limited little rinky-dink mortal love. Wait till you see how much more deeply you can love
than that. You have the capacity to someday love the whole world. It's your destiny."


terça-feira, 13 de setembro de 2011


Das minhas atmosferas.
Fico me lembrando das minhas atmosferas.
Me debruçando nessas lembranças sedutoras e carentes. Essas atmosferas que nem devem ser minhas, mas que eu injetei em veias sem vida.
Lembro de uma manhã, quando mamãe e papai voltavam de Buenos Aires, em que eu e Isadora nos arrastávamos para fora da cama, os pés naquele vento gelado que vinha pelas frestas.
Havia o gosto de saudade, de sonhos interrompidos pela chave na porta, o gosto de moças duplas bebericando garrafas de vinho nas noites solitárias, semanas de comidas mal feitas, receitas assustadas e, claro, nossas risadas. A dor de pés cansados, a alma tranquila, o sentimento de ascensão daquela juventude que achei que tínhamos. Éramos jovens e vivas, cúmplices de códigos secretos e sem razão. Só nossos.
Junto vinha aquele sabor de expectativas íntegras e interesseiras, também juvenis e já idosas, experientes, esperando. Eternamente esperando. Sabor de presentes, de histórias, e a vontade de paisagens fotográficas.
Sabor chocolate argentino. Sabor frio. Sabor serotonina se acumulando em todo e qualquer espaço vazio. É curioso como nem nos esforçarmos pra deixar à mostra o que sentimos, pôr pra fora o que trazemos por dentro. Só deixamos as coisas entrarem. As coisas se misturarem como quiserem, formando quadros tortos nas paredes do nosso espírito. Somos semipermeáveis, descontínuas, não-transparentes. Somos translúcidas.
Lembro do abraço de mamãe, da preocupação exagerada com a sobrevivência ali deixada para cumprirmos, e a repressão do nosso ser. Reprimindo o êxtase vindo das aventuras daqueles dias, só sussurrando que 'sim, está tudo certo, tanto faz, sobrevivemos'.
Desconfio que era o exagero, aquele exagero todo, que trazia a repressão.
Ou talvez fosse só o desejo de manter aqueles experimentos internalizados, como se compartilha-los fizesse deles menos nossos e deliciosamente abstratos.
Ou talvez fosse só frescura. A mesma frescura daquela manhã gélida de reencontro, sem cor, sem o desfecho dos sonhos. Etérea demais, dissolvida tristemente em mim. Como as inúmeras outras atmosferas que um dia se ergueram, feito espuma.


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