Das minhas atmosferas.
Fico me lembrando das minhas atmosferas.
Me debruçando nessas lembranças sedutoras e carentes. Essas atmosferas que nem devem ser minhas, mas que eu injetei em veias sem vida.
Lembro de uma manhã, quando mamãe e papai voltavam de Buenos Aires, em que eu e Isadora nos arrastávamos para fora da cama, os pés naquele vento gelado que vinha pelas frestas.
Havia o gosto de saudade, de sonhos interrompidos pela chave na porta, o gosto de moças duplas bebericando garrafas de vinho nas noites solitárias, semanas de comidas mal feitas, receitas assustadas e, claro, nossas risadas. A dor de pés cansados, a alma tranquila, o sentimento de ascensão daquela juventude que achei que tínhamos. Éramos jovens e vivas, cúmplices de códigos secretos e sem razão. Só nossos.
Junto vinha aquele sabor de expectativas íntegras e interesseiras, também juvenis e já idosas, experientes, esperando. Eternamente esperando. Sabor de presentes, de histórias, e a vontade de paisagens fotográficas.
Sabor chocolate argentino. Sabor frio. Sabor serotonina se acumulando em todo e qualquer espaço vazio. É curioso como nem nos esforçarmos pra deixar à mostra o que sentimos, pôr pra fora o que trazemos por dentro. Só deixamos as coisas entrarem. As coisas se misturarem como quiserem, formando quadros tortos nas paredes do nosso espírito. Somos semipermeáveis, descontínuas, não-transparentes. Somos translúcidas.
Lembro do abraço de mamãe, da preocupação exagerada com a sobrevivência ali deixada para cumprirmos, e a repressão do nosso ser. Reprimindo o êxtase vindo das aventuras daqueles dias, só sussurrando que 'sim, está tudo certo, tanto faz, sobrevivemos'.
Desconfio que era o exagero, aquele exagero todo, que trazia a repressão.
Ou talvez fosse só o desejo de manter aqueles experimentos internalizados, como se compartilha-los fizesse deles menos nossos e deliciosamente abstratos.
Ou talvez fosse só frescura. A mesma frescura daquela manhã gélida de reencontro, sem cor, sem o desfecho dos sonhos. Etérea demais, dissolvida tristemente em mim. Como as inúmeras outras atmosferas que um dia se ergueram, feito espuma.
"But that love you felt, that's just the beginning. You just got a taste of love. That's just
limited little rinky-dink mortal love. Wait till you see how much more deeply you can love
than that. You have the capacity to someday love the whole world. It's your destiny."
terça-feira, 13 de setembro de 2011
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