Alice esteve a vida toda se agarrando a um fio de lã. Segurou o tempo todo, revezando as mãos doidas e calejadas. Nunca passou pela sua cabeça que pudesse soltá-lo, ele, fio tão familiar e... Bem, reconfortante não. Isso ele não conseguia ser. Era só um companheiro. Zona - não - linha de conforto, expectativa.
A cada passo, Alice soltava um pedaço e apanhava os próximos instantes de fio vivo. Em segredo, já havia dentro dela a certeza: só precisava achar o novelo perdido. Com suas dores persistentes e delicadamente formuladas, Alice chorava a ausência daquele novelo, fim em si mesmo, como qualquer ser humano decente. As lágrimas caíam, riscavam as mãos e encontravam o fio, dançando em espirais em torno dele, escorrendo-lhe junto para o futuro. Lentamente, embaladas por sua triste música, se deixavam absorver pela lã e ali morrem, saciando a sede no coração de Alice.
O fio se tornou a única realidade para a menina, fácil de se conformar, mole para as circunstâncias e dura para a vida. Caminhando de olhos cerrados, Alice era plena, era estável, era. E enquanto simplesmente ser parecia o bastante, ela caminhou, pé ante pé, ilusão atrás de ilusão.
Foi então que se deu conta. O fio se desfazia em suas pequenas mãos rosadas. Desfiava. Definhava. De tanto tomar conta, Alice o matava, aquele fio de metáforas, sonhos e amor.
Ela para e deixa a possibilidade ocorrer. "E se eu abandonar o novelo? Talvez nunca o encontre, de qualquer forma. E se eu só deixar pra lá? Eu consigo achar o meu caminho sem o fio?"
Alice leva a mão à boca com um estremecimento.
Dói demoradamente abrir mão de uma rede de suposições, seu fio-terra de lágrimas e desmoronamento. Alice não sabe. Não sabe se solta o fio. Não sabe se se chorar suas lágrimas vão passar a subir em direção ao céu.
No céu, as harpas dos anjos são de fio de lã.
Irene faz falta.
http://youtu.be/7PvkViR7Pn0
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