"But that love you felt, that's just the beginning. You just got a taste of love. That's just
limited little rinky-dink mortal love. Wait till you see how much more deeply you can love
than that. You have the capacity to someday love the whole world. It's your destiny."


quarta-feira, 14 de março de 2012


Como quando você toma o ar nas mãos, e ele se esvai por entre os dedos. E morre de você, morre de si mesmo, morre de ar.
Se eu me concentrar, ainda consigo me enxergar sentada ao pé da fonte, gotas de água respingando na roupa, os olhos deslizando lentamente pelas esculturas dançantes que ficam ilhadas naquela poça gigante. Cada linha de roupa, cada traço de asa, cada face congelada em emoções barrocas que arranham a alma.
Aquelas esculturas me arranham sim. Me arranham inteira e friamente, perpétuas em seu cimento. E eu vejo você em todas elas. Marcado na pedra, face congelada, me arranhando inconscientemente, um espírito aprisionado dentro de tão silenciosa escultura.
Tombo a cabeça para o outro lado e deixo os olhos ainda percorrerem, percorrerem, te chamarem, te reproduzirem, me perguntarem o que diabos houve entre nós dois.
Não foi a pedra que se colocou entre nós. Foi o ar. O ar que nos divide, que deixa as suas roupas assim, nessa aparência de quase movimento sem razão. Que acaricia meu rosto quente (você ainda se lembra da sensação?) e lança gotículas em minha direção. É o ar que move nuvens, move pó, bate janelas. É o ar que traz e leva o tempo. Que preenche esses poucos metros entre meu corpo e você.
Eu poderia me levantar e andar até a fonte. Poderia esticar o braço e te tocar. Poderia perguntar "quando foi que isso aconteceu?" Mas a sensação do ar passando por mim é como sentir você fugindo por entre meus dedos, se esvaindo de vez, ficando estranho, indiferente, desviando os olhos. Então ao invés disso me levanto e me viro, exausta de te estudar estátua, e me afasto, embriagada pelas pessoas passantes. Pelos paralelepípedos sob meus pés. E pelo ar.
Tarde passível de se pensar: diferentemente de tudo, hoje eu sou igual.

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